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30 de jul. de 2010

O Estudo de Competitividade

Para celebrarmos o fim da apresentação do Relatório Brasil 2009 – e estimularmos ainda mais os nossos 65 destinos a se aperfeiçoarem a partir de seus resultados – oferecemos, agora, uma esclarecedora entrevista com o Coordenador do Núcleo de Turismo da Fundação Getúlio Vargas, Luis Gustavo Barbosa, executada durante o último Salão do Turismo.


65 Destinos – Quando surgiu o Plano Nacional de Turismo, depois da criação do Ministério, um dos principais gargalos identificados que impediam o desenvolvimento pleno da atividade turística brasileira era a falta de um fluxo contundente de informações relacionadas ao setor. Na sua opinião, de que forma o Estudo de Competitividade veio a suprir essa dificuldade?

Luis Gustavo Barbosa – A ideia do Estudo nasceu quando o Ministério apresentou, como uma de suas metas fundamentais , a necessidade de o Brasil alcançar um determinado número de destinos com qualidade internacional. Entretanto, ao estabelecer tal objetivo, surgiu a seguinte questão: "Como fazer, afinal, para medir essa qualidade?" Em outras palavras, para que fosse possível o acompanhamento desta evolução, precisaríamos, antes de tudo, criar uma métrica. Ou seja, algo que sondasse a situação atual dos destinos, identificando seus principais gargalos, de modo que, a partir disso, eles fossem capazes de articular suas ações em direção a melhorias objetivas.

65 Destinos – Um desafio bastante complexo, não?

Luis Gustavo Barbosa – Sem dúvida... Gerar um indicador de qualidade para um setor tão complexo como o turismo é algo, de fato, nada simples. Entretanto, considero que o Estudo de Competitividade, da maneira como vem sendo desenvolvido, constitui-se num instrumento efetivo que nos permite entender, de forma clara e objetiva, o que é, afinal de contas, um produto de qualidade. E os destinos, por sua vez, ao entenderem cada vez mais esse processo, poderão, enfim, planejar melhor suas ações, elevando sistematicamente os seus índices de competitividade.

65 Destinos – O que significa "competitividade"?

Luis Gustavo Barbosa – Na verdade, o termo competitividade foi utilizado porque se refere a um conceito econômico... Ou seja, sua função foi a de enfatizar um pouco mais as questões econômicas relacionadas à atividade turística. Assim, o objetivo do Estudo era direcionar a abordagem de temas como infraestrutra, educação e saúde pública, por exemplo, para dentro de um arcabouço econômico, ou seja, a partir de uma lógica ligada à economia. Este, portanto, foi o embrião do Estudo, a partir do qual desenvolvemos sua metodologia.

65 Destinos – E como foi elaborada essa metodologia?

Luis Gustavo Barbosa – Pois bem. Em estudos como este, o ponto de partida para a construção da metodologia é sempre a definição do que estamos querendo medir. No caso, a competitividade! Assim, no final de 2007, executamos um trabalho em conjunto com os técnicos do Ministério do Turismo e do Sebrae, no intuito de buscarmos uma definição para esse conceito, de modo que pudéssemos posteriormente identificar suas métricas... Respondendo, agora, a pergunta anterior, podemos dizer, em síntese, que a competitividade constitui-se na "capacidade de um destino competir de forma sustentável e de crescer durante o tempo".

65 Destinos – Certo. E como foram estabelecidas as métricas?

Luis Gustavo Barbosa – Bem, o Estudo foi dividido, então, em 13 dimensões, as quais, por sua vez, foram divididas em 60 variáveis... E por que fizemos isso? Ora, porque precisávamos tangibilizar os elementos cuja variação estabeleceriam os idicadores relacionados às dimensões. Por exemplo, a dimensão "acesso". Nela, podemos levar em conta inúmeros pontos, tais como acesso aéreo, acesso rodoviário, acesso aquaviário, e assim por diante. Quer dizer, somente a análise de todas essas "variáveis" seria capaz de nos oferecer um diagnóstico completo de cada uma das dimensões nos 65 destinos.

65 Destinos – E quais são os critérios de avaliação para a confecção deste diagnóstico?

Luis Gustavo Barbosa – Quando falamos, por exemplo, que a dimensão a ser analisada é "acesso", e sua variável é "acesso aéreo", as perguntas que vamos fazer estão relacionadas a um conjunto de questões bastante complexas, tais como o número de voos do aeroporto local, a capacidade desse aeroporto, sua estrutura etc. Por isso, na elaboração da metodologia, procuramos estabelecer critérios bastante objetivos para as respostas, ou seja, "sim ou não". O destino tem aeroporto? Tem ou não tem. O aeroporto possui posto de informação ao turista? Sim ou não. Em outras palavras, o pesquisador não julga o destino; o que ele faz é constatar a existência ou a inexistência das variáveis. Esta a grande tônica da metodologia.

65 Destinos – Trata-se, então, de uma espécie de inventário turístico?

Luis Gustavo Barbosa – Não, não chega a ser um inventário, porque não podemos pensar em tudo... Há questões para as quais buscamos um maior detalhamento, como esta do acesso aéreo, por exemplo. Mas há outras em que isso não é possível. No caso dos atrativos turísticos, não podemos abarcar todo o universo de atrativos e serviços de um destino. Logo, somos obrigados a eleger apenas alguns para uma análise mais profunda, até porque o Estudo foi criado no intuito de gerar uma nota, que vai de 0 a 100.

65 Destinos – Podemos dizer, portanto, que é um estudo quantitativo?

Luis Gustavo Barbosa – Não exatamente. Na verdade, ele é qualitativo. O que fazemos é quantificar os resultados... Quer dizer, hoje em dia, existem diversos métodos para se quantificar um estudo qualitativo, e o Estudo de Competitividade é um deles. Temos também o Boletim de Desempenho Econômico, entre outros, que funcionam da mesma maneira.

65 Destinos – E sobre os trabalhos de campo... A pesquisa é feita sempre por meio de perguntas ou há também a constatação direta por parte do pesquisador?

Luis Gustavo Barbosa – Das duas formas. No caso do aeroporto, por exemplo, boa parte do material é extraído pela constatação direta. Por outro lado, quando examinamos uma dimensão como a relacionada ao marketing, somos obrigados a perguntar se o destino possui ou não um plano. Caso a resposta seja positiva, pedimos então para que apresentem esse plano, e fazemos mais algumas subperguntas, a fim de detalhar a questão. Coisas como o ano de sua última revisão, ou se existe um orçamento efetivo para a sua implementação. Afinal, precisamos saber se esse plano é só um papel impresso ou, de fato, possui alguma utilidade real para o desenvolvimento turístico do destino.

65 Destinos – A ideia do Estudo, então, é fazer com que os destinos criem metas de atuação?

Luis Gustavo Barbosa – A ideia é oferecermos um retrato do destino... Nesse sentido, entendo que o Estudo deva funcionar como um grande instrumento de políticas públicas, pois seus resultados permitem a identificação dos pontos a serem aperfeiçoados, o que acaba gerando uma sinergia de ações. Em síntese, creio que ao apresentar uma visão mais ampla do setor, o Estudo torna-se capaz de induzir os órgaos que atuam no desenvolvimento turístico a priorizarem investimentos.

65 Destinos – Sobre a intereptação dos resultados, podemos dizer que já existe alguma evolução neste processo?

Luis Gustavo Barbosa – Olha, com apenas duas séries históricas da pesquisa, o que podemos identificar são evoluções relacionadas a pequenos incrementos, ou seja, coisas muito simples de serem feitas, mas que não foram executadas por descuido ou esquecimento. Por exemplo: a inserção de um "disque 100" para denúncias de prostituição infantil nos folders dos destinos. É algo simples, e nós avaliamos isso. Outro exemplo são as pesquisas de demanda, que não exigem muitos gastos nem grandes esforços, e trata-se de algo fundamental hoje em dia. Então, com ações simples como essas, os destinos acabam por iniciar um processo maior de estruturação. Prova disso é que há destinos crescendo 10% ao ano dentro do nosso Estudo, o que significa, de fato, um incremento interessantíssimo.

65 Destinos – E com relação às partes mais complexas?

Luis Gustavo Barbosa – Nesses temas, o tempo médio para começarmos a ver evoluções contundentes é algo em torno de 20 anos.

65 Destinos – E quantas pesquisas ainda serão feitas?

Luis Gustavo Barbosa – A ideia é que até 2012 o Estudo seja feito anualmente, até para que possamos consolidar o método e a cultura de pesquisa nos destinos. Esta é, digamos, a série histórica considerada mínima para um estudo como este. Depois, poderíamos desenvolver uma periodicidadde um pouco maior, bianual, por exemplo, com a qual esperaríamos um pouco mais para ver o destino reagir às informações da pesquisa anterior.

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